segunda-feira, 7 de junho de 2010

Freud e a Educação

Freud e a Educação:
A teoria psicanalítica pauta o desenvolvimento intelectual na sexualidade. O que impulsiona a inteligência pesquisadora é algo sexual. Este fato é crucial para diferenciar esta teoria das outras teorias cognitivas do desenvolvimento da inteligência, como a de Piaget. Nos estudos feitos por Clara Regina Rappaport, ela entende que Freud coloca a criança como não tendo um desenvolvimento seqüencial e que as fases de desenvolvimento ocorrem aproximadamente na mesma idade em todas as crianças. É como se o desenvolver biológico comandasse o desenvolvimento psicológico.
Apesar da inteligência pesquisadora ser impulsionada por uma carga energética sexual, a criança não é passiva em seu desenvolvimento, pois ela faz investigações, e estas a ajudam em seu desenvolvimento psíquico. Há uma inter-relação entre o desenvolvimento biológico e psicológico. Ainda que haja determinantes que levem a criança a desejar aprender, ela precisa de alguém que intermedeie seu aprendizado; e este alguém é o professor. “Então, a pergunta ‘O que é aprender?’ supõe, para a psicanálise, a presença de um professor, colocado numa determinada posição, que pode ou não propiciar aprendizagem” (Kupfer, 1998).
Não se aprende sozinho: existe uma relação entre professor e aluno. No caso do autodidatismo é criada a figura de alguém que fala, ensina através de um livro. E se não tem um livro presente, há um dialogo interior entre o aluno e algo que é fruto de sua imaginação. Quem nunca estudou sozinho e conversou consigo mesmo, trocando idéias, mesmo que numa conversa interior? O aprendizado supõe um relacionamento de mestre e aluno. O professor só consegue transmitir conhecimento se é autorizado e acreditado pelo aluno, não importa se está dizendo a verdade ou não. O aprendiz que ouve o seu mestre é porque deu a ele um lugar especial em sua vida. Assim, o mestre ganha um poder de influência sobre o aluno. Na fase da latência a criança dirige ao educador um afeto antes transmitido aos pais, principalmente ao pai; um afeto transmitido ao pai no momento da determinação do complexo de Édipo.
A psicanálise dá importância à relação entre docente e discente e as condições que esta fornece à aprendizagem; o conteúdo não tem importância. A relação professor-aluno apresenta o que se pode chamar de “transferência”. O termo transferência foi usado pela primeira vez por Freud na obra: A interpretação dos sonhos, de 1900. Freud acreditava que no decorrer do dia algumas situações marcavam o indivíduo, isto é, os “restos diurnos”. Estas situações marcantes eram transferias ao sonho e nele se modificavam. Passado algum tempo, ele usou o termo transferência para designar a relação analista-paciente, assim como professor-aluno. Do mesmo modo que um paciente poderia transferir seu pai para o analista, um aluno também seria capaz de realizar a mesma transferência, mas para o seu professor – e tudo isto inconscientemente. Por ser inconsciente, seria um bom instrumento de análise deste. Ademais, a transferência faz parte da vida das pessoas e das relações destas.
“‘Que são transferências?’, perguntava Freud no epílogo de Uma Análise fragmentária de uma histeria, escrito em 1901. E ele próprio respondia: ‘São reedições dos impulsos e fantasias despertados e tornados conscientes durante o desenvolvimento da análise e que trazem como singularidade característica a substituição de uma pessoa anterior pela pessoa do médico. Tanto os sonhos quanto a sua análise se apresentam no campo do inconsciente. O sonho trabalha com os “restos diurnos”. Em Cinco Lições de Psicanálise, Freud relata o caso de uma paciente do Dr. Joseph Breuer; era uma moça que sofria de ataques histéricos, estes compostos por vários sintomas, dentre os quais uma paralisia do braço direito. Este trauma foi causado por uma alucinação que a paciente teve ao entrar em estado de semi-sonho. Ao adormecer na cadeira apoiou seu braço direito e teve a alucinação de ver uma serpente querer morder o enfermo [na época em que ela adquiriu este trauma, ela tomava conta de se pai que estava doente]; tentou afugentar a cobra, mas seu braço estava adormecido... chegou até a confundir seus dedos com pequenas cobras. É provável que esta paciente já havia se assustado com cobras e por esse motivo teve uma alucinação num estado de semi-sonho. A cobra funcionou como um resto diurno, no qual o sonho trabalhou e lhe atribuiu outro significado, devido à transferência dos restos diurnos.
De acordo com o que foi explicitado anteriormente, pode-se comparar a transferência que ocorre no sonho com a que acontece em relação ao analista e ao professor. O aluno transfere um sentimento, que antes era direcionado ao seu pai, para a figura do analista ou professor. “O importante é fixar a idéia de que o desejo inconsciente busca aferrar-se a ‘formas’
pode-se comparar a transferência que ocorre no sonho com a que acontece em relação ao analista e ao professor. O aluno transfere um sentimento, que antes era direcionado ao seu pai, para a figura do analista ou professor. “O importante é fixar a idéia de que o desejo inconsciente busca aferrar-se a ‘formas’
O desejo que move a transferência de sentido é processado no inconsciente e isto faz com que o aluno não possa saber dele, muito menos saber como ele se realiza singularmente. O professor somente tem consciência de tal transferência se estiver atento a toda construção do desejo. Porém, não poderá ter consciência total, já que isto é para o analista. O aluno concede o poder ao professor por desejo inconsciente. O docente é impulsionado a abusar deste poder e o usa para reprimir o discente, inflingindo-lhe seus próprios valores e idéias; quer destruir a ação do desejo do aluno e instaurar a ação do seu próprio desejo, isto é, fundará sua autoridade. É como se o docente tivesse o papel de regular o discente, de submetê-lo seu próprio jugo. A Educação então é submetida a uma lei fixada pelo pedagogo que não aceita discussões, no que diz respeito à suas idéias. O aprendiz que é educado desta maneira se torna capaz de decorar conteúdos e repetir como um papagaio; tornar-se-á um sujeito passivo. “É evidente que nós também não educamos as crianças só pelo bem delas, mas também, e talvez principalmente, por razões egoístas” (F. Savater. 1998).
É uma situação muito complicada esta que envolve docente-discente, pois o primeiro também tem seu próprio desejo inconsciente. Ele é mestre e ensina devido a um desejo. Porém, deve abrir mão de seu desejo para deixar que seu aluno seja um sujeito ativo e possa sair dessa relação sem frustrações – descobrir a si próprio. As escolas, os educadores, criam forças, máquinas úteis que dêem continuidade ao trabalho.
Os educandos são transformados em sujeitos passivos, meros produtos de substituição. O que até certo ponto chega a ser algo alienante.
Os alunos não têm autonomia, são sujeitados a obedecer a uma lei disciplinar. “O neófito (novato) começa a estudar, em certa medida, à força. Por quê? Porque lhe é pedido um esforço, e as crianças só se esforçam voluntariamente naquilo que as diverte” (Savater, 1998).
Ainda assim, as crianças são muito curiosas; e, em decorrência disto, são extremamente investigativas. Porém, a curiosidade delas é muito mais instantânea, e não tão sistemática do que se precisa para estudar disciplinas escolares como aritmética, química ou história. A curiosidade infantil é muito importante à educação que deve desenvolvê-la. A criança não se importa com o conhecimento que lhe falta; é o professor que deve adquirir a confiança dela, e com isso despertar um anseio pelo conhecimento.
Atualmente, não são utilizados mais os castigos físico para controlar o aprendizado, mas a repressão adotada é aquela que age no psicológico, com a intenção de criar massas produtivas, mas o que não sabem, ou fingem não saber, é o fato de não controlarem o que cada indivíduo pensa em seu íntimo.
Da mesma forma, pode-se afirmar que a aproximação da psicanálise da Educação constitui um grande desafio. O inconsciente é como uma grande porta de entrada que fica trancada; não sabemos o que vamos encontrar por detrás dela. Num tratamento psicanalítico, o analista pode saber qual o problema do paciente e como deve proceder no tratamento. Todavia, não tem controle sobre os efeitos que provoca no paciente, isto é, quais os caminhos o sujeito analisado irá seguir. A educação também enfrenta um desafio, pois não pode conhecer os efeitos que gera em seus alunos. “Pensar assim leva o professor a não dar tanta importância ao conteúdo daquilo que ensina, mas a passar a vê-los como a ponta de um iceberg muito mais profundo, invisível aos seus olhos” (Kupfer, 1998).
No que diz respeito ao poder que permeia o relacionamento entre docente-discente, Freud examinou a fundo esse poder que é dado aos educadores e o impulso de exorbitar dele. Tratou da repressão que a Pedagogia faz uso para ensinar, que necessita da energia sexual sublimada. “Como fazer uso do controle e ao mesmo tempo renunciar a ele?” (Kupfer, 1998). Tem de ser capaz de ensinar o conhecimento aos alunos, mas tem que estar ciente de que eles darão importância ao que lhes for conveniente; além de manterem seus desejos mais íntimos guardados a sete chaves. Permitir isto nos alunos é essencial ao desenvolvimento intelectual deles como indivíduos de personalidade própria. A subjetividade de cada um processa o ensino criando novos conhecimentos. É através da interrogação que se afirma a liberdade. o respeito com uma certa irreverência, um caminho de amadurecimento intelectual.
O educador deve agir segundo a arte da persuasão, sem dominar. Muitas vezes, o aluno descobre sua vocação graças a um professor e não à matéria que este transmite. O docente não pode deixar de ter sua própria personalidade, de ser ele mesmo. Mas tem a obrigação de controlar os excessos e a tentação do poder. É preciso: “matar o mestre para se tornar o mestre de si mesmo, esta é uma lição que, já vimos, pode ser extraída até mesmo da vida de Freud” (Kupfer, 1998).
O mestre que recebe a transferência do aluno, e que freia a tentação de dominar, se liberta de uma carga excessiva e indesejável, ao passo que se torna impotente diante d outro ser humano para ajudar este a ser uma pessoa livre e produtiva – e isto tudo é algo muito penoso. Ao aceitar que não deve obrigar o discente a seguir as vias da educação repressora, e sem renunciar a si mesmo, o docente está contribuindo à formação pessoal do neófito. Este último tomará posse real do saber, além de alicerçar condições para futuros saberes e conhecimentos.
“Freud declara o seguinte: o educador é aquele que deve buscar, para seu educando, o justo equilíbrio entre o prazer individual e as necessidades sociais.”

Referências
KUPFER, M. C. Freud e a Educação – o mestre do impossível. São Paulo: Scipione, 1998.
SAVATER, F. O valor de educar. Tradução de M. Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 107 -132.
RAPPAPORT, C. R. Modelo Piagetiano. In: Teorias do Desenvolvimento - Conceitos Fundamentais. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1981. Vol. I
Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 8, n.2, p. 239-248, 2008
FREUD, S. Cinco Lições de Psicanálise. 2.ed.Tradução de Durval Marcondes e J. Barbosa Corrêa. São Paulo: Comp. Editora Nacional, 1930.
Agradecimentos
Agradeço especialmente aos professores que tornaram possível os meios da minha pesquisa: Dr. Vandeí P. da Silva e Dr. Sílvio José Benelli, e a todos aqueles que me apoiaram.
ARTIGO RECEBIDO EM 31/08/08



Estrutura tripartite da mente.

Freud buscou inspiração na cultura Grega, pois a doutrina platônica com certeza o impressionou em seu curso de Filosofia. As partes da alma de Platão correspondem ao Id, o Superego e o Ego da sua teoria das partes ou órgãos da mente (1923 - "O Ego e o Id").

Id - Freud buscou funções físicas para as partes da mente. O Id, regido pelo "princípio do prazer", tinha a função de descarregar as tensões biológicas. Corresponde à alma concupiscente, do esquema platônico: é a reserva inconsciente dos desejos e impulsos de origem genética e voltados para a preservação e propagação da vida.

Ego - lida com a estimulação que vem tanto da própria mente como do mundo exterior. Racionaliza em favor do Id, mas é governado pelo "princípio de realidade". É a parte racional da alma, no esquema platônico. É parte perceptiva e a inteligência que devem, no adulto normal, conduzir todo o comportamento e satisfazer simultaneamente as exigências do Id e do Superego através de compromissos entre essas duas partes, sem que a pessoa se volte excessivamente para os prazeres e sem que, ao contrário, se imponha limitações exageradas à sua espontaneidade e gozo da vida.

O Ego ou o Eu é a consciência, pequena parte da vida psíquica, subtraída aos desejos do Id e à repressão do Superego. Obedece ao principio da realidade, ou seja, á necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer ao Id sem transgredir as exigências do Superego. É parte perceptiva e a inteligência que deve, no adulto normal, conduzir todo o comportamento e satisfazer simultaneamente as exigências do Id e do Superego através de compromissos entre essas duas partes, sem que a pessoa se volte excessivamente para os prazeres e sem que, ao contrário, se imponha limitações exageradas à sua espontaneidade e gozo da vida.

O Ego é pressionado pelos desejos insaciáveis do Id, a severidade repressiva do Superego e os perigos do mundo exterior. Se submete ao Id, torna-se imoral e destrutivo; se submete-se ao Superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter á realidade do mundo, será destruído por ele. Por esse motivo, a forma fundamental da existência para o Ego é a angústia existencial. Estamos divididos entre o principio do prazer (que não conhece limites) e o principio de realidade (que nos impõe limites externos e internos). Tem a dupla função de, ao mesmo tempo, recalcar o Id, satisfazendo o Superego, e satisfazer o Id, limitando o poderio do Superego. No indivíduo normal, essa dupla função é cumprida a contento. Nos neuróticos e psicóticos o Ego sucumbe, seja porque o Id ou o Superego são excessivamente fortes, seja porque o Ego é excessivamente fraco.
Superego - que é gradualmente formado no "Ego", e se comporta como um vigilante moral. Contem os valores morais e atua como juiz moral. É a parte irascível da alma, a que correspondem os "vigilantes", na teoria platônica. O Superego, também inconsciente, faz a censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem ao Id, impedindo o indivíduo de satisfazer plenamente seus instintos e desejos. É o órgão da repressão, particularmente a repressão sexual. Manifesta-se à consciência indiretamente, sob a forma da moral, como um conjunto de interdições e de deveres, e por meio da educação, pela produção da imagem do "Eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa. O Superego ou censura desenvolve-se em um período que Freud designa como período de latência, situado entre os 6 ou 7 anos e o inicio da puberdade ou adolescência. Nesse período, forma-se nossa personalidade moral e social (1923 "O Ego e o Id").

Fases do desenvolvimento sexual.

Freud descobriu as fases da sexualidade humana que se diferenciam pelos órgãos que sentira prazer e pelos objetos ou seres que dão prazer. Essas fases se desenvolvera entre os primeiros meses de vida e os 5 ou 6 anos, ligadas ao desenvolvimento do Id:
1. A fase oral, quando o desejo e o prazer localizam-se primordialmente na boca e na ingestão de alimentos e o seio materno, a mamadeira, a chupeta, os dedos são objetos do prazer;
2. A fase anal, quando o desejo e o prazer se localizam primordialmente nas exercesse e as fezes, brincar com massas e com tintas, amassar barro ou argila, comer coisas cremosas, sujar-se são os objetos do prazer;
3. A fase fálica, quando o desejo e o prazer se localizam primordialmente nos órgãos genitais e nas partes do corpo que excitam tais órgãos. Nessa fase, para os meninos, a mãe é o objeto do desejo e do prazer; para as meninas, o pai.
4. A fase de latência, quando a criança está em processo de aquisição de habilidades, valores morais e papeis culturalmente aceitos, transferindo assim o impulso sexual para um segundo plano, devido à prática de outras atividades – a leitura, a escrita, atividades artísticas; enfim, é o período escolar, onde o impulso sexual é impedido de se manifestar devido aos papeis morais impostos pela educação.

5. A fase genital, quando o indivíduo domina todas as suas pulsões parciais pela genitalidade, seja com fins orgásticos, seja com fins de procriação.